Com o objetivo de promover uma reflexão crítica sobre as desigualdades raciais na saúde pública, foi realizado, nessa terça-feira (24), no Hospital Ferreira Machado (HFM), a palestra “Política de Saúde, Luta Antirracista e os Atravessamentos Étnico-Raciais no Cotidiano da Assistência à Saúde”. A iniciativa, desenvolvida pelos estagiários de Serviço Social do HFM Vitor Nogueira e Larissa Pontes, como parte do projeto de intervenção de campo, reuniu profissionais da unidade em torno de temas fundamentais para uma assistência mais justa, acolhedora e equitativa.
Durante o encontro, os participantes acompanharam uma apresentação de slides, receberam uma cartilha informativa sobre o tema e ainda participaram do sorteio de livros voltados à temática racial. O conteúdo abordou conceitos fundamentais como preconceito racial, discriminação, racismo interpessoal, institucional e estrutural.
A assistente social Aldineia Domingos, que atua no pronto-socorro do HFM, destacou a importância do projeto realizado pelos estagiários. “Foi um trabalho muito sensível e necessário. A proposta surgiu a partir da observação deles sobre como questões raciais ainda impactam o atendimento em saúde. Eles perceberam que a população preta enfrenta um olhar diferenciado, muitas vezes invisibilizado no cotidiano da assistência. A palestra trouxe dados, leis específicas, portarias voltadas para essa população e evidenciou doenças mais prevalentes, como hipertensão, diabetes tipo 2 e anemia falciforme”, explicou.
Aldineia ressaltou ainda o impacto da ação sobre a prática dos profissionais. “A gente tem um preconceito histórico enraizado, e é fundamental ter esse tipo de reflexão no ambiente hospitalar. Acolher bem é parte essencial do nosso trabalho como assistentes sociais, e conhecer essas especificidades faz toda a diferença. Descobrimos, por exemplo, que o SUS possui legislações voltadas especificamente para a população negra, algo que muitos de nós não sabíamos. Esse conhecimento renova e fortalece nosso olhar sobre o outro”, enfatizou.
A palestra também trouxe à tona o conceito de branquitude, pouco discutido no dia a dia da saúde, mas fundamental para entender os privilégios e desigualdades que atravessam a sociedade brasileira. Para a assistente social Maria de Fátima Barbosa, que participou da atividade, o encontro foi revelador. “Foi uma experiência muito rica. Primeiro, por ter sido construída por estagiários daqui, o que mostra o quanto eles estão atentos e engajados. Segundo, porque nos deu acesso a informações importantes. Foi um aprendizado que nos impacta diretamente na forma de atender”, comentou.
Ela ainda destacou o papel da formação continuada dentro dos hospitais. “Discutir racismo, preconceito e exclusão não deve ser algo pontual. Precisa ser permanente, estar na formação de todos que atuam com pessoas. A população negra é a que mais sofre com as desigualdades em saúde, e precisamos ter isso muito claro. Foi uma aula de cidadania, de empatia, de responsabilidade”, concluiu Maria.