Adversário histórico do ex-governador fluminense Anthony Garotinho, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), passou a afagar a família do desafeto na intenção de ampliar o arco de alianças para as eleições de 2026, quando tende a concorrer ao Palácio Guanabara. Paes se reuniu com o prefeito de Campos dos Goytacazes, Wladimir (PP), filho de Garotinho, dias depois de ter cobrado publicamente o presidente Lula (PT) a modificar o projeto de uma ferrovia para atender o município do Norte Fluminense. Além da tentativa de angariar aliados no interior do estado, o prefeito da capital procura tirar o PP da base do governador Cláudio Castro (PL), que estará no lado oposto ao seu na próxima eleição.
No encontro com Wladimir, no qual também abordou o cenário eleitoral do ano que vem, Paes discutiu o projeto da ferrovia EF-118, que pode ligar o Porto do Açu, no Norte do estado, à Baixada Fluminense. O governo federal, no entanto, avalia construir apenas o trecho da ferrovia que chega ao Espírito Santo, o que irritou prefeitos do interior do Rio.
Antes de se reunir com o filho de Garotinho, Paes havia divulgado um vídeo nas redes sociais cobrando Lula e o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, a fim de impedir o que chamou de “crime contra a economia fluminense e carioca”.
Apoio para ferrovia
Interlocutor de Paes e Wladimir em Campos, o deputado federal Caio Vianna (PSD) afirma que ambos trabalham para “obter mais apoios” para o projeto da ferrovia. Vianna também aponta o filho de Garotinho como “um dos nomes mais importantes” para construir uma aliança eleitoral no estado, por causa do que chamou de “vitória histórica” na eleição de 2024 em Campos — a maior cidade do interior fluminense, com 370 mil eleitores.
— O prefeito Eduardo Paes entende que o interior forte é fundamental para o desenvolvimento do estado. Os gestos (político-eleitorais) são normais nessa fase, mas existe um entendimento de que ainda é muito cedo para qualquer definição — diz Vianna.
Paes tem histórico de embates com Anthony Garotinho, pai de Wladimir, com acusações mútuas de corrupção e trocas de farpas públicas. Em 2022, o prefeito do Rio irritou a família Garotinho ao debochar das três prisões do ex-governador e de uma declaração de uma de suas filhas, a ex-deputada Clarissa Garotinho, que havia dito que o BRT da capital fluminense, construído na gestão de Paes, “nasceu todo errado”. Em resposta, o carioca ironizou: “Falou a filha do Garotinho e da Rosinha sobre nascer toda errada”.
Desde o início do ano passado, contudo, Paes tenta estabelecer pontes com os Garotinho. Na última eleição municipal, ele acabou acertando o apoio do PSD a uma candidatura de oposição a Wladimir em Campos, articulada pelo presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), cuja família sempre rivalizou com Garotinho na cidade. Passada a eleição, porém, Paes recalculou a rota e passou a tratar Bacellar como provável adversário na disputa pelo governo em 2026. Ter Wladimir consigo seria inclusive uma forma de neutralizar a força do chefe da Alerj no Norte Fluminense.
Paes coloca o PP como principal partido a ser cobiçado para a eleição do ano que vem. A sigla só perde para o PL em número de prefeituras no território fluminense. Levá-la para a futura aliança seria uma forma de o prefeito da capital angariar importantes cabos eleitorais em outros colégios e, ao mesmo tempo, enfraquecer a coligação do candidato que representará a sucessão do governador Cláudio Castro.
A entrada no caso da EF-118 é apenas mais um dos gestos que Paes tem feito em temas estaduais. O principal é na segurança pública, maior preocupação de cariocas e fluminenses. Além de ter apresentado ideias no início deste mandato para aumentar a participação do município no tema, o prefeito aborda cada vez mais episódios ligados à atuação do estado nesse campo, como as operações policiais e a chamada ADPF das Favelas.
Outra pauta que transcende a capital é a candidatura unificada de Rio e Niterói para sediar os Jogos Pan-Americanos de 2031. Ele e o niteroiense Rodrigo Neves (PDT) aproveitam para defender como legado a construção da sonhada Linha 3 do metrô, ligando o Centro da capital à cidade vizinha e a São Gonçalo, terceiro maior colégio eleitoral do estado.
Fonte: O GLOBO